» BULLING

Engraçado como as coisas mudam e se modernizam, quando eu era criança costumava ser gordinha, aliás, não mudei muito… Na escola não me lembro de ter sofrido por isto, muito pelo contrário, eu era cheia de amigas e amigos, vivia cercada de carinho e era uma das mais ativas, criava tanta coisa que sempre acabava levando todo mundo para o castigo junto comigo. Recordo-me de uma vez que em uma aposta tive que jogar xadrez e não sabia nem o que era. Foi fácil, joguei e perdi e todos aplaudiram a confiança… Tempos outros? Ou será que minha escola era diferente?

Só sei que o assédio nas escolas está ficando cada vez pior, mas é feito por crianças que aprenderam em algum lugar, então é óbvio que o exemplo deve ter vindo de alguém próximo.

Minha filha ano passado tinha que ter a amiga zero, a melhor amiga, as amigas e,  claro,  as inimigas, este ano não tem nada disso. Fui investigar com outras mães, parti para a pesquisa de campo e descobri, pasmem, que a criadora disto tudo tinha sido transferida. Como não existia mais o incentivo todas as outras agora são amigas. Engraçado com as coisas são…

Bullying  é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bullytiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.

Em muitos casos as pessoas são simultaneamente vítimas e agressoras de bullying, ou seja, em determinados momentos cometem agressões, porém também são vítimas de assédio escolar pela turma. Nas escolas, a maioria dos atos de bullying ocorre fora da visão dos adultos e grande parte das vítimas não reage ou fala sobre a agressão sofrida.

O bullying direto é a forma mais comum entre os agressores (bullies) masculinos. A agressão social ou bullying indireto é a forma mais comum em bullies do sexo feminino e crianças pequenas, e é caracterizada por forçar a vítima ao isolamento social. Este isolamento é obtido por meio de uma vasta variedade de técnicas, que incluem:

  • espalhar comentários;
  • recusa em se socializar com a vítima;
  • intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima;
  • ridicularizar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo a etnia da vítima, religião, incapacidades etc).

Os bullies usam principalmente uma combinação de intimidação e humilhação para atormentar os outros. Alguns exemplos das técnicas de assédio escolar:

  • insultar a vítima;
  • acusar sistematicamente a vítima de não servir para nada;
  • ataques físicos repetidos contra uma pessoa, seja contra o corpo dela ou propriedade.
  • interferir com a propriedade pessoal de uma pessoa, livros ou material escolar, roupas, etc, danificando-os.
  • espalhar rumores negativos sobre a vítima;
  • depreciar a vítima sem qualquer motivo;
  • fazer com que a vítima faça o que ela não quer, ameaçando-a para seguir as ordens;
  • colocar a vítima em situação problemática com alguém (geralmente, uma autoridade), ou conseguir uma ação disciplinar contra a vítima, por algo que ela não cometeu ou que foi exagerado pelo bully;
  • fazer comentários depreciativos sobre a família de uma pessoa (particularmente a mãe), sobre o local de moradia de alguém, aparência pessoal, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tenha tomado ciência;
  • isolamento social da vítima;
  • usar as tecnologias de informação para praticar o cyberbulling (criar páginas falsas, comunidades ou perfis sobre a vítima em sites de relacionamento com publicação de fotos etc);
  • chantagem.
  • expressões ameaçadoras;
  • grafitagem depreciativa;
  • usar de sarcasmo evidente para se passar por amigo (para alguém de fora) enquanto assegura o controle e a posição em relação à vítima (isto ocorre com frequência logo após o bully avaliar que a pessoa é uma “vítima perfeita”);
  • fazer que a vítima passe vergonha na frente de várias pessoas.

 

Bullying professor-aluno

O assédio escolar pode ser praticado de um professor para um aluno. As técnicas mais comuns são:

  • intimidar o aluno em voz alta rebaixando-o perante a classe e ofendendo sua autoestima. Uma forma mais cruel e severa é manipular a classe contra um único aluno o expondo a humilhação;
  • assumir um critério mais rigoroso na correção de provas com o aluno e não com os demais. Alguns professores podem perseguir alunos com notas baixas;
  • ameaçar o aluno de reprovação;
  • negar ao aluno o direito de ir ao banheiro ou beber água, expondo-o a tortura psicológica;
  • difamar o aluno no conselho de professores, aos coordenadores e acusá-lo de atos que não cometeu;
  • tortura física, mais comum em crianças pequenas; puxões de orelha, tapas e cascudos.

Tais atos violam o Estatuto da Criança e do Adolescente e podem ser denunciados em um Boletim de Ocorrência numa delegacia ou no Ministério Público. A revisão de provas pode ser requerida ao pedagogo ou coordenador e, em caso de recusa, por medida judicial.

 

Indicativos de estar sofrendo por bulling:

 

  • enurese noturna (urinar na cama);
  • distúrbios do sono (como insônia);
  • problemas de estomâgo;
  • dores e marcas de ferimentos;
  • síndrome do intestino irritável;
  • transtornos alimentares;
  • isolamento social/ poucos ou nenhum amigo;
  • tentativas de suicídio;
  • irritabilidade / agressividade;
  • transtornos de ansiedade;
  • depressão;
  • relatos de medo regulares;
  • resistência/aversão a ir à escola;
  • demonstrações constantes de tristeza;
  • mau rendimento escolar;
  • atos deliberados de autoagressão.

Legislação:

 

No Brasil, a gravidade do ato pode levar os jovens infratores à aplicação de medidas sócio-educativas. De acordo com o código penal brasileiro, a negligência com um crime pode ser tida como uma coautoria. Na área cível, e os pais dos bullies podem, pois, ser obrigados a pagar indenizações e podem haver processos por danos morais.

Um das referências sobre o assunto, no Brasil, é um artigo escrito pelo ministro Marco Aurélio de Mello, intitulado Bullying – aspectos jurídicos.

A legislação jurídica do estado de São Paulo define assédio escolar como atitudes de violência física ou psicológica, que ocorrem sem motivação evidente praticadas contra pessoas com o objetivo de intimidá-las ou agredi-las, causando dor e angústia.

Os atos de assédio escolar configuram atos ilícitos, não porque não estão autorizados pelo nosso ordenamento jurídico, mas por desrespeitarem princípios constitucionais (ex: dignidade da pessoa humana) e o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. A responsabilidade pela prática de atos de assédio escolar pode se enquadrar também no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de assédio escolar que ocorram nesse contexto.

No estado do Rio de Janeiro, uma lei estadual sancionada em 23 de setembro de 2010 institui a obrigatoriedade de escolas públicas e particulares notificarem casos de bullying à polícia. Em caso de descumprimento, a multa pode ser de três a 20 salários mínimos (até R$ 10.200) para as instituições de ensino.

Na cidade de Curitiba todas as escolas têm de registrar os casos de bullying em um livro de ocorrências, detalhando a agressão, o nome dos envolvidos e as providências adotadas.

 

Condenações legais

 

Dado que a cobertura da mídia tem exposto o quão disseminada é a prática do assédio escolar, os júris estão agora mais inclinados do que nunca a se simpatizarem com as vítimas. Em anos recentes, muitas vítimas têm movido ações judiciais diretamente contra os agressores por “imposição intencional de sofrimento emocional” e incluindo suas escolas como acusadas, sob o princípio da responsabilidade conjunta. Vítimas norte-americanas e suas famílias têm outros recursos legais, tais como processar uma escola ou professor por falta de supervisão adequada, violação dos direitos civis, discriminação racial ou de gênero ou assédio moral.

 

Existe solução?

Do que professores a alunos precisam? Alunos com quem já conversei frequentemente reportam que os professores não os escutam e que tudo que os professores querem é que os alunos fiquem quietos e entreguem suas tarefas no prazo certo. Resumindo, o que os alunos dizem que eles querem mais do que tudo é que professores e outros adultos os escutem, os respeitem e tenham consideração por aquilo que eles precisam.

Professores querem que os alunos sejam mais responsáveis pelos seus comportamentos e aprendizado. Eles querem ter mais tempo para dar atenção às necessidades individuais de aprendizado e ver um aprendizado mais comprometido acontecendo em sala de aula. Eles querem que as políticas educacionais respeitem mais os alunos e encorajem interações de mais respeito entre os alunos. Para eles mesmos, gostariam de ter relacionamentos de mais respeito com administradores e colegas de trabalho.

Para satisfazer as necessidades de ambos, alunos e professores, minha sugestão é que os relacionamentos sejam, de uma vez por todas, colocados no centro da atenção de uma sala de aula. Em uma sala de aula afetiva, a segurança, confiança, as necessidades dos alunos, as necessidades dos professores e habilidades de comunicação são considerações tão importantes quanto história, português, artes, ciências ou qualquer outra matéria acadêmica. Os professores podem achar que estas novas considerações vão requerer mais trabalho para eles. Entretanto, eu espero convencer todos de que o tempo gasto criando segurança e confiança  e melhorando as habilidades de comunicação vão proporcionar aos educadores o que eles mais querem – uma comunidade de aprendizado com compaixão aonde o aprendizado comprometido floresce.

Estudos mostram que o aumento da segurança e confiança resulta em mais cooperação, menos conflito e menos práticas de bullying em sala de aula. Alunos se tornam mais sensíveis às necessidades dos outros e a empatia aumenta entre professores e alunos assim como entre os próprios alunos. Além disso, notas melhores nas provas e uma melhoria na habilidade de aprender novas habilidades também já foram percebidas.

Apesar disso tudo, sabemos que muitos alunos e professores não se sentem seguros nas escolas. Pressão e stress, na sala de aula e nos pátios, tem muita coisa na vida escolar que contribui para o aumento da ansiedade e medo. Violência física nas escolas é o sinal mais óbvio de que não existe segurança para os alunos. O medo que estes incidentes causam, geram efeitos profundos nos alunos e suas famílias.

Muitos pais com quem já conversei sentem-se com medo de mandar seus filhos para a escola. A prática do bullying cria um clima de terror e aflição que ameaça a segurança física e emocional de todos os alunos. É muito difícil se manter focado nos estudos quando você está tentando se recuperar de uma ação de um agressor ou prevendo a próxima!

Portanto, já passou da hora de educadores, administradores, pais, alunos começarem a reaprender a resgatar valores de confiança, amizade, respeito, tolerância e compaixão nas escolas, em casa e em suas comunidades.

A maneira como todos nós comunicamos nossas necessidades e a maneira como ouvimos as necessidades dos outros é o fator determinante para que estas necessidades sejam atendidas ou não. Em uma sala de aula afetiva, aonde relacionamentos são colocados no centro das atenções professores e alunos tornam-se conscientes das formas habituais através das quais expressam suas necessidades e praticam maneiras novas de expressarem estas mesmas necessidades que têm chances muito maiores de serem bem sucedidas. Eles também praticam a arte da empatia – de ouvir seus próprios sentimentos e os dos outros.

Sem dúvida nenhuma, uma sala de aula focada na segurança emocional e confiança dos seus alunos é a base sólida para que o aprendizado aconteça. Para se criar tal ambiente é de vital importância colocar o estudo dos relacionamentos no centro do currículo escolar, juntamente com as matérias “importantes”.

SOLUÇÕES:

Quem tem um filho passando por esse problema precisa mostrar-se disponível para ouvi-lo. Nunca se deve aconselhá-lo a revidar a agressão; mas, sim, esclarecer que ele não é culpado pelo que está acontecendo. Também é fundamental entrar em contato com a escola.

Especialistas do mundo inteiro concordam sobre o fato de que o papel dos pais — tanto de alunos agressores como de agredidos — é fundamental para combater a violência moral nas escolas e de que eles precisam saber lidar com a situação. No caso dos pais de agressores, é preciso que se convençam e mostrem aos filhos que esse comportamento é prejudicial a eles. De acordo com dados obtidos em trabalhos internacionais, não existe escola sem bullying. O objetivo é alterar a forma de avaliação do que é uma brincadeira e do que é bullying, mudando o enfoque da questão para a valorização do sentimento de quem sofre bullying, ou seja, respeitando seu sofrimento e buscando soluções que amenizem ou interrompam isso. Os autores de bullying podem se tornar líderes entre os alunos por disseminarem o medo e estarem repetindo seu modelo familiar, em que a afetividade é pobre ou a autoridade é imposta por meio de atitudes agressivas ou violentas.

A única maneira de combater esse tipo de prática é a cooperação por parte de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais: Todos devem estar de acordo com o compromisso de que o bullying não será mais tolerado. As estratégias utilizadas devem ser definidas em cada escola, observando-se suas características e as de sua população. O incentivo ao protagonismo dos alunos, permitindo sua participação nas decisões e no desenvolvimento do projeto, é uma garantia ainda maior de sucesso. Não há, geralmente, necessidade de atuação de profissionais especializados; a própria comunidade escolar pode identificar seus problemas e apontar as melhores soluções. A receita é promover um ambiente escolar seguro e sadio, onde haja amizade, solidariedade e respeito às características individuais de cada um de seus alunos.

Enfim, é fundamental que se construa uma escola que não se restrinja a ensinar apenas o conteúdo programático, mas também onde se eduquem as crianças e adolescentes para a prática de uma cidadania justa.

 

(TEXTO PRODUZIDO POR MARIA LUZITA DE FARIA – INSPIRAÇÃO CONSULTORIA PEDAGÓGICA/ SE QUISER COPIAR POR FAVOR, CITE A FONTE)


Referências:
 

  1.  Neto AA, Saavedra LH. Diga NÃO para o Bullying. Rio de Janeiro: ABRAPI; 2004.
  2.  Aramis A. Lopes Neto. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. J Pediatr (Rio J). 2005;81(5 Supl):S164-S172: Violência escolar, violência juvenil.
  3.   Macedo, Roberto (2 de junho de 2011). ‘Bullying’ é bulir com a língua portuguesaO Estado de S.Paulo, acesso em 3 de junho de 2011
  4.  Bullying and emotional abuse in the workplace. International perspectives in research and practice, Einarsen, S., Hoel, H., Zapf, D., & Cooper, C. L. (Eds.)(2003), Taylor & Francis, London.
  5.  UOL Educação. (24 de março de 2011). Bullying: identifique se o seu filho é vítima desse tipo de intimidação, acesso em 24 de março de 2011
  6.  CALHAU, Lélio Braga. Bullying: o que você precisa saber. RJ, Impetus, 2009, p. 21-36.
  7. http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/barbara-evans-filha-monique-evans-vitima-bullying
  8.  Italiani, Rafael. (16 de outubro de 2010). Agressão de crianças vira briga de paisAgora São Paulo