» COGNIÇÃO – FINAL

 

Embora Piaget, Gesell, Erikson e Spock tenham abordagens diferentes para o tema do desenvolvimento da criança, ajuda saber um pouco sobre cada uma delas. Pode ser que você ache útil pensar no desenvolvimento do seu filho em termos de sua interação com o ambiente quando ele é um recém-nascido, mas posteriormente você conseguirá tirar mais proveito da abordagem emocional. O que aprendemos acima são somente as teorias básicas de cada um desses especialistas, mas esperamos que tenha lhe dado uma boa base de conhecimento sobre o que esperar do seu filho no que se refere ao desenvolvimento cognitivo.

Ao tentar compreender o processo de aquisição da linguagem pela criança, o psicolingüista está sempre lidando – de forma explícita ou implícita – com a questão das possíveis relações entre pensamento e linguagem.

Neste sentido, observamos que estudos sobre o desenvolvimento cognitivo refletem, de alguma forma, hipóteses sobre o papel da linguagem no conhecimento humano e/ou da cognição na aquisição da linguagem.

Como resultado, o desenvolvimento lingüístico é visto como precedido e determinado por estruturas cognitivas previamente adquiridas. Grande parte dos psicolingüistas adotou essa posição teórica e elegeu o modelo piagetiano como o mais adequado para o estabelecimento de relações com o desenvolvimento lingüístico.

Nesta busca de um diálogo com a teoria piagetiana, recorremos brevemente ao texto, ou melhor, à hipótese de Franchi (1977), por ela representar um avanço efetivo neste diálogo com a teoria de Piaget. Especialmente, porque dela é possível extrair uma concepção de linguagem compatível com o aspecto operativo da teoria piagetiana. Para o autor, conceber a linguagem no seu aspecto instrumental, como uma ferramenta ideal para transmissão de idéias, sentimentos e para a ação sobre os outros… é empobrecê-la.

Antes de se constituir como instrumento de interação, ela é um processo de elaboração, de construção do pensamento.

O ponto que une Franchi a Piaget, portanto, não é certamente uma mesma visão da linguagem, mas o fato de o primeiro autor defini-la no quadro de caracterização das ações/operações; enquanto processo de transformação e construção, na teoria piagetiana.

Com isto, Franchi oferece uma possibilidade de reinterpretação da proposta piagetiana sobre a relação entre linguagem e cognição.

Dentro deste contexto, elegemos como objeto de estudo a explicação, na medida em que ela pode ser considerada como uma certa maneira de conduzir raciocínios sobre fatos reais, como um procedimento cognitivo. No entanto, este reconhecimento é possível, porque se revela simultaneamente como procedimento de comunicação. Aqui, é preciso entender “comunicar” num sentido amplo: as informações não circulam, e não se trocam, senão porque agimos pela linguagem sobre os desejos, as crenças e as decisões dos interlocutores. Como escreve Borel (1980: 22) “[um] discurso explicativo não tem realidade tomado isoladamente, i. é, fora de seu contexto, de suas relações com outros discursos, da situação que o determina e onde existem seus efeitos. Não se limita um discurso como se delimita um terreno, ou como se desmonta uma peça de uma máquina”.