Na busca de respostas, organizou-se o conhecimento do homem. Mas o que se quer dizer quando se fala em conhecimento?
Mesmo sem nunca ter ido à escola, o agricultor sabe cuidar da terra, conhece os segredos do plantar e do colher; o pescador sabe como pescar e conhece, por experiência, os cuidados que deve ter com o rio e com o mar; a cozinheira sabe preparar os alimentos e cozinhar. O agricultor, o pescador e a cozinheira têm um conhecimento.
Pela curiosidade, pela admiração e pelo desejo de saber, o homem busca uma resposta para indagações como: .De onde viemos?. .Para onde vamos depois da morte?. .Qual a explicação para os fenômenos naturais, como a chuva, o sol, o movimento das estações do ano, o ciclo da vida dos animais e das plantas? .Quem criou as leis e as regras sociais que regulam o funcionamento da sociedade? Por que amamos ou odiamos as pessoas?
Podemos verificar que cada conhecimento é resultado de um jeito de a gente se relacionar com a realidade mais superficial ou mais profundamente e o que desejamos é ampliar a nossa relação, isto é, aumentar nosso conhecimento. Qualquer que seja o conhecimento, ele é um processo contínuo de construção e transformação da realidade.
Mas então perguntamos: como é que nós construímos e transformamos a realidade?
Ela já não está aí construída? O mundo já não está construído?
Sabemos que a realidade é tudo o que existe. Portanto, as árvores, os rios, os peixes e as florestas são a realidade, tanto quanto as casas, as ruas, as máquinas. O importante é que todos, mesmo os seres da natureza, como os rios e as florestas, ainda que não tenham sido criados pelo homem, em certo sentido são construídos por ele, pois ganham significado quando o homem se relaciona com eles. Por exemplo, os seres humanos dão nome aos elementos naturais e utilizam esses elementos para construir novas coisas.
Na medida em que são tocados ou percebidos, os seres da natureza adquirem a marca, o registro, o jeito de ser do homem. Por isso é que se pode falar em construção e transformação da realidade pelo conhecimento.
Quando conhecemos o mundo, nós o fazemos de uma maneira específica, que é diferente do modo de conhecer dos animais.
A percepção humana do mundo não funciona como um espelho, como um reflexo do real. Conhecemos o mundo por meio dos nossos órgãos de percepção, entre eles, especialmente, a visão e a audição. Mas possuímos, além disso, uma inteligência e uma capacidade imaginativa que nos possibilitam criar coisas novas, registrar o passado, visualizar o futuro, realizar previsões e fazer projetos.
Somente o homem projeta, planeja o que irá acontecer e modifica as suas respostas diante dos estímulos exteriores ou interiores, porque é capaz de pensar racionalmente e imaginar sempre um novo comportamento. Dessa forma, o homem está constantemente construindo a realidade e o mundo ao seu redor.
A imaginação é a faculdade que os homens possuem de inventar, de criar uma representação da realidade.
A beleza do poema Irene no Céu, de Manuel Bandeira, é um bom exemplo de exercício da imaginação:
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.