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MARIA LUZITA DE FARIA

PEDAGOGA

(Se precisar copiar, cite a fonte)

INDISCIPLINA NA SALA DE AULA

As pessoas que me conhecem sabem o quanto eu trabalho com as escolas e professores e andando por aí vejo coisas maravilhosas e absurdas acontecendo. Em um curso que ministrei recentemente a professora disse que para controlar os alunos usava artifícios dos mais loucos que já ouvi, não vou citá-los para não dar idéias…

Resolvi fazer nos meus cursos uma horinha de técnicas para resolver certos problemas de indisciplina. Não adianta nada ficarmos dizendo que educação vem de casa ou que a família é responsável pela disciplina e que a criança tem que chegar pronta. A verdade é que desde que comecei a lecionar as crianças continuam com a mesma indisciplina de sempre.

O fator humano e o comportamento infantil colocam em cheque qualquer conceito pré-formado e mentalidade profissional. É importante aprender com os erros e saber ouvir os conselhos e histórias de pessoas que já passaram por essa fase e erraram antes de você.

1) Use sua voz normal e natural

Levantar a voz para ter a atenção dos alunos não é a melhor estratégia. O ambiente e estresse causados não valem à pena e podem provocar efeitos contrários. Os estudantes irão espelhar-se em seu tom de voz, por isso evite o uso do volume e tom elevados. Se você quer que as crianças falem e um volume normal e agradável é importante que você seja o principal exemplo. Não se esqueça também de diferenciar seu tom de voz. Ao pedir que os alunos guardem seus cadernos e façam grupos, seja afirmativo e firme, em um tom imperativo. Quando perguntar ou pedir a participação dos alunos na sala de aula, ou questionar a importância de determinado fato, use um tom convidativo e informal.

 

2) Fale apenas quando houver silêncio

Apenas espere. Aguarde que cada aluno reconheça sua presença, sem a necessidade de qualquer apresentação ou manifestação. Lute contra a tentação de falar ou chamar a atenção. Você irá perceber que a iniciativa de calar-se e pedir silêncio virá dos próprios alunos e isso faz toda diferença na construção do respeito mútuo.

 

3) Use comunicação não-verbal

Manter sua mão levantada e fazer contato visual com os alunos é uma ótima forma de obter o silêncio e a atenção. Leva um tempo para que os estudantes se acostumem com essa rotina, mas ela funciona perfeitamente. Ao levantar sua mão, peça a eles que façam o mesmo. Espere 5 segundos e abaixe o braço lentamente. Ligar e desligar a luz rapidamente são métodos antigos e eficientes. Pode ser um sinal de rotina para uma prova, por exemplo, quando faltam alguns minutos para a entrega. Com alunos mais novos, você pode bater palmas três vezes e ensiná-las a bater responsivamente duas vezes. É uma maneira divertida e ativa de chamar a atenção sem precisar distanciá-los de você.

 

4) Pontue problemas de forma rápida e sábia

Ao perceber um problema ou confusão pontual, resolva essa questão o mais rápido possível. Mal estar e indisposições podem crescer rapidamente e tornarem-se confusões e desentendimentos mais complicados de resolver. Para resolver esses problemas de forma sábia, você e o(s) aluno(s) devem separar-se do resto da turma, na porta ou lado de fora da sala. Pergunte de forma ingênua “Como posso te ajudar?â€, mas não faça isso de forma cínica e que provoque mais ressentimento. Não acuse o estudante de nada. Mostre que você se importa, mesmo se esse não for o caso. O aluno ficará desarmado porque espera uma atitude de confrontação e irritação. Sempre tenha uma abordagem positiva. Diga, “Parece que você está com dúvidas†ao invés de “Porque você estava conversando e não fez a atividade?â€. Quando os estudantes tiverem conflitos entre eles, tenha sempre uma atitude neutra, não importando o histórico do aluno. Converse com eles durante o intervalo ou na saída e uso uma linguagem neutra. Você deve agir como mediador da situação, e eles devem aprender sozinhos como resolver o problema de forma pacífica e madura.

 

Mas, se apesar de usar estas técnicas tudo virou um caos e você está prestes a resgatar aquela varinha de marmelo que sua vó ainda mantém guardada atrás da porta, calma. Comece contando de 1 á 10 e depois retroceda de 10 à 1, várias vezes de for necessário e tente:

 

A. Você pediu para o Marcelinho sentar no lugar dele e ficar quieto. Seu pedido educado não resolveu. Você dá um escândalo? Grita? Põe para fora da sala? Não! Chegue bem perto dele e repita com voz baixa, clara e séria a ordem de que ele deve se sentar e ficar calado. Sim, ordem. Se você é o professor e ele é o aluno, faz parte do seu trabalho especificar onde está o limite e cuidar para que ele seja respeitado.

B. A Laurinha tem o péssimo hábito de tirar os objetos dos colegas. “Eu quero um apontador, empresta o apontador, deixa eu usar o seu apontador…†Se ninguém empresta, ela pega, usa, não devolve e ainda xinga os colegas. Você fica na sua e finge que não viu?  Chegue perto da menina, pergunte de quem é o objeto, pergunte onde está o dela e diga para devolver para o colega e pedir desculpas pelo ato. Não precisa ser solenemente, na frente da turma inteira, pode ser só entre vocês três.

C. A turma está berrando, superagitada, cheia de energia e você não consegue dar aula. Para piorar, seus colegas já deram uma batidinha na porta e disseram que o barulho dos seus pimpolhos está atrapalhando. Por mais que a sua vontade seja de berrar mais, assustar bem os alunos, dizer meia dúzia de desaforos e fazê-los sentir muito culpados pela zorra toda, respire fundo e comece a caminhar pela sala. Peça para as duplas fazerem silêncio, toque em alguns alunos, faça um gesto pedindo silêncio e, quando o volume estiver mais baixo, fale um pouco mais alto, peça calma, diga que está tudo bem, que você está ali e que logo a aula vai acontecer e vocês vão se divertir juntos.

D. Algo que também funciona é perguntar a um aluno ou outro mais exaltado se ele quer sair da sala. Não em tom de ameaça, mas como um convite mesmo. “Vocês querem sair um pouco, beber uma água, resolver isso lá fora e depois voltar? Podem ir se quiserem, aí vocês se entendem e eu dou a aula para o resto da turma. Pode ser?†De duas uma: ou eles vão sair ou vão sossegar.

E. É importante não usar aquelas frases conhecidas: a turma de vocês é a pior da escola; todo mundo detesta trabalhar aqui; eu fico com preguiça de entrar; vocês são muito malcriados. Por mais que seja verdade e que esse seja o papo da sala dos professores, não diga coisas assim para os seus alunos. Primeiro porque eles gostam de chamar a atenção, segundo porque, se já estiverem estigmatizados, vão usar isso como defesa ( “Ninguém gosta da gente mesmo, a gente é assim mesmoâ€) vira uma desculpa e eles sentem-se livres para continuar como estão. Terceiro e mais importante, porque faz parte da educação apontar os pontos fortes e positivos do comportamento humano. Quando você fala sobre um ato de uma pessoa, está reforçando isso para você e para ela. Então, elogie o que for bom. A parte positiva tende a superar a negativa.

 

F. Outras dicas que são sempre valiosas: converse com seus alunos de igual para igual, chegue perto, tente ficar do tamanho deles e olhe nos seus olhos quando tiver algo a dizer. Nunca humilhe, evite ao máximo dar uma bronca berrando, jamais finja que não percebeu um comportamento mais agressivo. Em vez de generalizar o mau comportamento e dizer que a criança “é†assim, mostre que às vezes, por motivos que você desconhece, ela “age†de tal modo. O que está errado é o ato, não a pessoa.

G. Você precisa saber o nome de cada aluno e conhecer os comportamentos: este é tímido, aquele é extrovertido, o outro é mais agressivo, tem um muito sensível… Prestar atenção a esses detalhes ajuda muito no seu dia-a-dia, pois lhe dá a oportunidade de resolver as questões que aparecem apenas uma vez e de forma assertiva.

 

E, quando parecer que nada dá certo, quando você estiver cansado e alterado demais, respire fundo, tenha paciência com você e com os estudantes e saiba que para tudo dá-se um jeito. Se não foi hoje, amanhã você acha uma saída.

As vezes podemos ter em nossas salas alunos hiperativos, saiba como reconhecê-los e tratá-los da melhor forma, afinal você é o professor e sua função é ensinar. Esteja certo se seus alunos, em sua maioria estão com notas baixas, com certeza a culpa é sua. Não adianta culpar os pais, a sociedade ou o governo. A função do professor é ensinar e ensinar direito. Para cada problema existe uma solução, basta você aprender a identificar as causas.

A escola se queixa: “Esse menino não pára!”; “Parece que ele está sempre com a cabeça no mundo da lua!”; “Ele não consegue acompanhar porque não presta atenção no que faz!”; “Esse menino precisa de limites!”. Quando os pais ouvem esses comentários dos professores, uma pergunta muito séria ronda sua cabeça: até que ponto a “energia” ou a “distração” do filho são normais ou são sinais de que há algo realmente errado acontecendo?

Responder a essa pergunta não é nada fácil. Afinal, que criança não é, em certa medida, desatenta, agitada ou impulsiva? Pode-se desconfiar de que há algo de errado quando todas essas características estão presentes na criança de maneira exagerada.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (denominação correta da conhecida hiperatividade) é um quadro que ocorre antes dos 7 anos de idade e, segundo algumas estimativas norte-americanas, atinge cerca de 3% a 5% das crianças, sendo muito mais freqüente em meninos do que em meninas. A criança com déficit de atenção e hiperatividade apresenta problemas em quatro áreas: atenção, controle de impulsos, atividade motora e baixo limiar para a frustração.

Em relação à atenção, a criança apresenta dificuldade em se concentrar nas tarefas que deve realizar e costuma distrair-se com facilidade. Essa dificuldade, no entanto, não significa que ela seja “incapaz” de se concentrar. Em determinadas circunstâncias, pode até fixar sua atenção em uma história que está sendo contada por um adulto ou em algum programa de TV. Na sala de aula, por exemplo, a criança pode inicialmente entender o que deve fazer e começar a tarefa, mas a movimentação do colega ao lado ou um barulho do lado de fora podem fazê-la “perder o fio da meada”, diferentemente do que acontece com outras crianças, que conseguem permanecer atentas ao que estão fazendo.

Controlar impulsos é uma tarefa difícil para todos nós: quem, por exemplo, já não teve vontade de “pular no pescoço” de alguém que fala algo desagradável? O problema com a criança hiperativa é que ela tem muita dificuldade de se controlar em situações que exigem planejamento, reflexão sobre conseqüências futuras ou seguimento de regras. Por exemplo, ao jogar bolinha de gude com outras crianças, ela pode não conseguir esperar a sua vez e “atropelar” os colegas. Ao resolver um problema de matemática, pode não conseguir planejar todos os passos que deve seguir e começar de qualquer forma. Mas, de novo, é importante lembrar: isso não significa que a criança nunca vai conseguir fazer um planejamento ou se controlar diante de dificuldades.

O excesso de atividade motora é o sinal mais característico e conhecido do quadro: a criança tem dificuldades em se manter sentada por muito tempo e, em geral, movimenta-se muito e o tempo todo. Esse exagero pode ocorrer também em relação às emoções, já que muitas crianças com déficit de atenção e hiperatividade costumam ter reações emocionais muito intensas, sejam elas de raiva, alegria ou frustração. Em geral, é o excesso de atividade motora que leva os professores a fazer reclamações quanto aos limites que são dados às crianças.

E, por fim, a dificuldade em lidar com a frustração faz com que a criança desista muito facilmente de seus objetivos. Em outras palavras, diante de dificuldades para alcançar algo que deseja ou para terminar uma tarefa (por exemplo, um exercício no caderno), a criança acaba não indo até o fim, ainda que os pais ou os professores insistam para que ela tente mais uma vez.

É muito importante identificar corretamente se a criança realmente tem o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) para que ela receba atendimento adequado o mais rápido possível. Em geral, quando a criança apresenta o quadro e não é diagnosticada (e, por conseqüência, não recebe o atendimento adequado), as suas relações com a família, escola e amigos vão ficando cada vez piores: ela é muito criticada por todos, não consegue se sair bem na escola e os colegas tendem a se afastar. O resultado? Um grande sentimento de incapacidade, dúvida sobre o amor das outras pessoas e uma auto-imagem muito ruim (“eu não sei fazer nada direito mesmo”).

A criança com TDAH não é distraída ou agitada porque quer. Ela se comporta dessa forma porque não consegue ser diferente! Por isso, se você desconfia de que a conduta do seu aluno pode ser um sinal de que ele tenha o TDAH, procure um neuropediatra ou um psiquiatra infantil (ou então sugira que os pais da criança façam isso). Esses profissionais poderão fazer o diagnóstico adequado e receitar medicamentos, se for necessário. O trabalho de um psicólogo será necessário para ajudar a criança a lidar com suas dificuldades e com as pessoas com quem convive.

Algumas dicas para lidar com a criança com TDAH:

  • A criança precisa de estruturação. Um ambiente organizado ajudará na organização interna da criança.
  • Nunca dê mais que uma instrução ao mesmo tempo. A criança certamente se esquecerá de alguma coisa.
  • Ao falar com a criança, olhe sempre nos olhos dela. Isso a ajudará a manter a atenção no que você está dizendo.
  • Repita sempre as instruções, pois a criança precisa disso.
  • Na escola, o professor deve procurar dar tarefas curtas para a criança. Se for longa, é importante tentar dividi-la em tarefas menores para que a criança não tenha a sensação de que é longa demais e que nunca vai terminar tudo aquilo.
  • Sempre valorize as coisas boas que a criança faz e as tarefas que consegue cumprir: ela provavelmente está cansada de saber de suas limitações, mas poucas vezes tem a oportunidade de ouvir sobre suas conquistas.

Não sei se isto é uma grande ajuda, mas são pequenas técnicas para auxiliar a difícil tarefa que é ensinar bem e com qualidade dentro de um quadro caótico educacional.

 

Bibliografia

 

  • ANDRADE, Ênio Roberto de. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n. 132, p. 30-32, maio 2000.
  • GENTILE, Paola. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n. 132, p. 30-32, maio. 2000.
  • GOLDSTEIN, Sam. Hiperatividade: como desenvolver a capacidade de atenção da criança. São Paulo: Papirus, 1998. 246 p.
  • VASCONCELLOS, Celso dos Santos . Indisciplina e disciplina escolar – fundamentos para o trabalho docente Editora Cortez pag. 25 até 53
  • BRITO, Clovis Indisciplina Escolra Antigo problema Novas discussões Editora Wak 2012 pag. 71, 89 até 105
  • REBELO,Rosana Aparecida Argento Indisciplina Escolar, causas e sujeitos 5ª edição 2012 Editora Vozes pag.34até135